
O recuo dos supermercados
Setor agora quer farmácias completas dentro dos estabelecimentos
A saída engendrada pelo senador Efraim Filho (União – PB), na tentativa de salvar o projeto que autoriza o comércio de medicamentos em supermercados, não convenceu totalmente as autoridades sanitárias e representantes do setor farmacêutico. A emenda apresentada pelo senador durante a última audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais propõe a permissão de abertura de farmácias completas, para vender todo tipo de medicamento dentro dos supermercados.
A alteração de última hora não amenizou as críticas. O Ministério da Saúde, em manifestação encaminhada ao Senado, alerta que o comércio de medicamentos em supermercados representa enorme risco à saúde individual e coletiva. ‘Pode resultar em aumento dos gastos para a saúde pública decorrente de intervenções e agravos originados pelo uso e armazenamento inadequado desses medicamentos’, advertiram os técnicos na mensagem aos senadores.
Para a Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), o plano B para a venda de medicamentos nos supermercados não passa de um recuo do setor supermercadista. ‘Com a emenda apresentada ao projeto de lei 2158/23, a proposta, na forma inicial, de vender medicamentos nas gôndolas, como se fosse um produto qualquer, não existe mais. Os supermercados recuaram, diante da enorme resistência dentro do Senado e da oposição de todas as entidades da área de saúde e de consumidores’, avalia Sérgio Mena Barreto, CEO da entidade.
Os defensores da proposta de Efraim argumentam que isso ampliaria a acessibilidade aos medicamentos e poderia reduzir os preços. Na avaliação da Abrafarma, no entanto, essa autorização já existe. ‘A legislação vigente já prevê essa possibilidade, tanto que, de acordo com um levantamento apresentado pelo Conselho Federal de Farmácia ao Senado, existem mais de 21 mil farmácias em áreas de supermercados’, afirma Mena Barreto.
O recuo, segundo ele, expõe ainda a principal motivação do setor de supermercados com a proposta. ‘O que está previsto na emenda só serve para grandes supermercados, que podem bancar um investimento tão grande. Os pequenos ficam de fora. Ou seja, a questão nunca foi abrir mais pontos de venda para baratear medicamentos e democratizar o acesso, e sim abrir uma nova frente de serviços para aumentar o lucro dos supermercados – como, aliás, demonstra a pesquisa divulgada recentemente.’
A pesquisa Qualibest, encomendada pela Abrafarma, indica que, para 61% dos brasileiros, os supermercados estão mais preocupados em ganhar dinheiro do que com a saúde da população. Para 56%, a venda de medicamentos isentos de prescrição, os chamados MIPs, em supermercados coloca em risco a saúde de crianças e adolescentes – no caso das mulheres, esse índice chega a 59%.
Os dados indicam também que a grande maioria da população não tem qualquer dificuldade de acesso à farmácia – 88% dos entrevistados consideram fácil o acesso. ‘Isso porque, hoje, já existem mais farmácias que Unidades Básicas de Saúde. Temos mais de 90 mil farmácias. A maioria é de pequenos ou médios empreendedores, espalhadas em áreas rurais e remotas. E muitas vezes é o local de primeiro atendimento e aconselhamento no sistema de saúde. Essas certamente correrão risco de fechar, se os supermercados avançarem nesse setor’, avalia o CEO da Abrafarma.
Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/o-recuo-dos-supermercados/