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Mercado de PBM amplia escopo de olho em prevenção e operadoras entram no jogo

Além de cartão desconto, prevenção e atendimento clínico ganham espaço entre os benefícios de programas de acesso a medicamentos

Diante do cenário desafiador da saúde no Brasil, em que tanto o sistema público quanto o suplementar estão pressionados por aumento de demanda e recursos limitados, soluções que buscam endereçar a questão do acesso surgem com frequência – como os cartões de desconto. De olho no acesso específico a fármacos, existem os Programas de Benefícios de Medicamentos (PBM), que oferecem descontos e fidelização com farmácias ou indústrias farmacêuticas. Inicialmente focado em descontos de medicamentos, o segmento agora tem expandido sua atuação para a prevenção e cuidado integral do paciente, inclusive com uso de tecnologia – e operadoras começam a entrar neste jogo.

Em linhas gerais, uma empresa contrata um PBM garantindo aos seus colaboradores melhores condições de acesso a medicamentos. O modelo mais tradicional é por meio de descontos, em que o beneficiário garante preços melhores ao realizar compra de medicamentos em farmácias e drogarias credenciadas, conforme regras preestabelecidas em seu programa. Novos formatos também permitem um pagamento mensal de, por exemplo, R$ 20, no qual o colaborador recebe em troca um crédito de R$ 150 por mês em farmácias. Há regras para esse gasto e, como nem todos os colaboradores gastam o total por mês, o modelo se viabiliza – similar ao princípio de um plano de saúde, em que um usuário que não utiliza o plano acaba “compensando” quem utilizou.

O mercado de PBM no Brasil existe há mais de 25 anos, segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Planos de Medicamentos (PBMA). Hoje, conta com cerca de 40 a 50 mil farmácias conectadas, metade do total nacional de mais de 90 mil. O movimento recente de novas modalidades e players se justifica. Medicamentos representam um desembolso significativo das famílias brasileiras. Em média, R$ 168,3 bilhões foram gastos em fármacos por elas em 2021. Para o governo, o custo também é considerável: cerca de R$12 bilhões em 2021, 3,4% das despesas totais.

O segmento se inspirou no modelo de descontos em medicamentos já existente nos Estados Unidos desde a década de 1970. Mas as diferenças dos sistemas de saúde de cada país e no mercado de saúde levaram a trajetórias distintas para esses programas. Nos Estados Unidos, os próprios planos de saúde incluem o fornecimento de medicações no seu escopo, algo que não acontece por aqui.

Segundo explica Mario Saggia, socio-fundador da consultoria Saggia, essa estratégia incentiva a aderência ao tratamento e, nesse sentido, tem relação com o fato da assistência à saúde americana ser privada e custosa: “Se esse paciente não estiver monitorado ou aderindo ao tratamento e tiver uma complicação, ele vai para o hospital. E o custo hospitalar nos Estados Unidos é muito maior que o nosso. Por isso, o PBM fica interessante, como serviços que vão dar a medicação para garantir adesão ao tratamento para evitar que o paciente vá para a emergência”.

Com alta demanda no varejo farmacêutico, o mercado americano de PBM valia US$ 498,5 milhões em 2022, segundo o Fortune Business Insights. Neste contexto, a Optum Rx, do UnitedHealth Group, é uma das empresas líderes, com uma participação de mercado de 22% em 2023, de acordo com um relatório da Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC). No Brasil, Saggia estima, a partir de dados de mercado, que o segmento PBM gerencie R$ 1,8 bilhões, cerca de 1% do total do mercado farmacêutico, que move R$ 158,4 bilhões.

Segundo ele, que também atuou em diversas indústrias farmacêuticas, incluindo a Optum, o PBM traz incentivos econômicos e não-econômicos a todos os envolvidos. Para as operadoras de saúde, os benefícios estão na melhoria da gestão da saúde populacional e redução de custos com medicamentos. Para a indústria farmacêutica, há maior adesão aos produtos e uma previsibilidade de vendas conforme os descontos negociados. Já pacientes e médicos se beneficiam de medicamentos mais acessíveis e tratamentos acompanhados, o que traz maior eficiência.

Em contrapartida, os programas podem ter limitações caso suas regras de desconto não comportem fármacos incluídos no tratamento do paciente. “Quando focado prioritariamente em descontos, com tetos financeiros para uso, podem impor barreiras ao acesso dos pacientes que mais necessitam da terapia e desmotivar adesão ao tratamento”, comenta Saggia.

PBM no Brasil

No Brasil, os programas de benefícios estão presentes entre as maiores redes do varejo farmacêutico. A RD Saúde, por exemplo, rede que gerencia as farmácias Raia e Drogasil, tem o benefício presente em mais de 3.200 farmácias. Segundo a empresa, sua carteira de PBM corporativo tem mais de 2.100 clientes.

Esse mercado também conta com a presença de empresas que gerenciam programas de benefícios, como a Funcional Health Tech, a epharma e a Interplayers. A Funcional Health Tech gerencia 16 programas de PBM ativos que alcançam mais de 43 mil farmácias pelo país. A epharma conta com cerca de 1.700 programas de benefícios de medicamentos ativos e tem 40 mil farmácias no seu escopo. Já a Interplayers tem 32 programas, com mais de 12 milhões de pacientes cadastrados em PBMs, e programas de fidelização e acesso com Aché, EMS, GSK, Hypera, Pfizer e Viatris.

Além disso, existem programas de benefícios oferecidos pela indústria farmacêutica para pessoas físicas. Nesse modelo, o cliente fornece dados pessoais e receita médica para ter acesso a medicamentos inclusos em cada programa. A farmacêutica Novo Nordisk, por exemplo, inclui no seu programa Novo Dia o acesso com desconto ao Ozempic, limitado a quatro caixas por mês por CPF cadastrado. Outras farmacêuticas também têm programas de desconto similares, como a Eli Lilly (Lilly Melhor Para Você), Aché (Cuidados pela vida), GSK (Viver mais) e Pfizer (Mais Pfizer).

As operadoras também têm demonstrado crescente interesse em incluir cobertura medicamentosa como um de seus benefícios. A Porto Saúde lançou em março uma cobertura do tipo para os beneficiários de seus planos de saúde. A iniciativa Proteção Medicamentos é feita em parceria com a RD Saúde e promete um crédito de até R$ 3 mil por ano em lojas físicas da Raia e Drogasil a R$ 39,90 mensais. A compra é permitida somente mediante prescrição médica, e há uma participação de 15% do valor do medicamento. “Nossas expectativas são altas”, comenta Vicente Lapenta, Diretor de Produtos Porto Saúde.

Tecnologia integrando desfecho no PBM

Para apoiar a evolução deste segmento, o setor tem buscado tecnologia e inovação. Elas possibilitam uma mudança de foco, dos descontos em medicamentos para o cuidado integral e preventivo do usuário ou beneficiário. “De dois, três anos para cá, estamos testando um modelo diferente de como dar esse acesso de uma maneira mais relevante às pessoas. Nossa mentalidade mudou para que o acesso não seja só ao tratamento medicamentoso. Ele tem que ser um acesso a um ecossistema mais completo e conectado de prevenção, de saúde, de bem-estar e, claro, de medicamento”, comenta Eduardo Mangione, CEO da epharma.

Essa orientação deu origem ao aplicativo Oxy, da epharma em parceria com a Namu. Junto a um programa de benefícios de medicamentos, a tecnologia oferece serviços e conteúdos focados na prevenção de doenças e bem-estar, como aulas e programas, monitoramento de sinais vitais e assistente virtual programada para tirar dúvidas e dar sugestões sobre saúde, além de telemedicina com especialidades médicas.

O aplicativo também traz a novidade de dar acesso ao medicamento por meio de um crédito real que pode variar de acordo com o plano do usuário. Segundo o CEO, os valores são em torno de R$ 20 a R$ 30 por mês e dão acesso a cerca de R$ 150 em medicamentos. Ele está incluído em um PBM que pode ser contratado por empresas e oferecido aos usuários.

Impulsionada pela inteligência artificial e outras tecnologias, a Funcional Health Tech também tem oferecido, além de descontos em medicamentos, acesso a e-commerce e consultas médicas. “Em alguns programas, o usuário pode também ter uma consulta com um fisioterapeuta para ensinar como usar bombinha, por exemplo. Ele compra o medicamento e também tem esse serviço agregado. É um PBM bastante completo no sentido de que não só o desconto, mas também outros serviços proporcionam uma jornada mais fluida para o paciente”, comenta Andrea Uchoa, diretora de negócios da Funcional Health Tech.

Um dos planos da Funcional cobre ainda medicamentos de alto custo enquanto o paciente aguarda a liberação em programas governamentais. Essa cobertura tem um prazo delimitado para fornecer os fármacos necessários de acordo com seus protocolos clínicos.

Na Interplayers, a inovação se materializa no oferecimento de serviços clínicos dentro das farmácias. Junto aos benefícios de medicamentos, o chamado Programa de Benefícios Clínicos possibilita a realização de exames em redes farmacêuticas através de acordos com a indústria farmacêutica. Em parceria com a Apsen, em novembro de 2024, realizaram exames para detecção de problemas na próstata, onde 29% dos usuários precisaram de consulta médica posterior.

“No começo, realmente era só desconto. Hoje em dia você tem toda uma questão de suporte. Já são, digamos, novas áreas do programa da PBM, de você incluir nessa jornada todo um suporte para aquele paciente como também até exames clínicos em farmácia”, diz Oscar Basto, diretor executivo da Interplayers.

O futuro do PBM

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Planos de Medicamentos (PBMA), Luiz Monteiro, o acesso a medicamentos na saúde ainda é precário e há muito o que avançar. Uma medida essencial seria ter um pagador institucional do medicamento devido à grande defasagem na assistência. No setor público, por meio do Programa Farmácia Popular, esse pagador é o governo, por exemplo. O programa já realiza esforços nessa linha, mas, na avaliação de Monteiro, não cobre todas as necessidades da população. Hoje, ele contempla condições como hipertensão, diabetes, asma, doença de Parkinson, glaucoma, diabetes mellitus associada e outras.

Já no setor privado, o pagador institucional poderia incluir empresas ou operadoras. Uma possibilidade, segundo ele, seria integrar os benefícios à saúde suplementar. Isso havia sido aviltado no final dos anos 90, quando a regulamentação dos planos estava em discussão. No final, a Lei nº9.656/1998, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde deixou de fora a assistência medicamentosa. “Na época, houve uma resistência muito grande, e justificada, das operadoras porque se o preço é inelástico, não dá para colocar mais coisas na mesma cobertura. Todo mundo sabe que o modelo está passando por uma pressão muito grande e estão insatisfeitos. É preciso um novo modelo, e ele deve ser repensado com a necessidade de se incluir a assistência farmacêutica ambulatorial”, avalia o presidente da PBMA.

Outra perspectiva para o futuro dos benefícios de medicamentos seria a existência de subsídios a medicamentos para trabalhadores, como vales — o que permitiria um alcance maior dessa estratégia no mercado. Assim, o usuário receberia de sua empresa ou empregador um vale-medicamento, da mesma forma que existe o vale-alimentação. Essa é a proposta de dois projetos de lei no Congresso Nacional.

Em tramitação no Senado, o PL 3.079/2024, de autoria do senador Weverton (PDT-MA), propõe a criação do Programa de Medicamentos do Trabalhador (PMT), que funcionaria de uma forma similar ao Programa de Alimentos do Trabalhador (PAT). O colaborador e seus dependentes teriam acesso a medicamentos mediante a apresentação de prescrição médica, e os valores seriam custeados pelas empresas participantes num formato de coparticipação. Isso seria operado a partir de incentivos fiscais às empresas que aderissem ao programa. Uma proposta semelhante também está em tramitação na Câmara, o PL 3094/2015, de autoria do deputado Pompeo de Mattos (PDF/RS).

Na avaliação de Monteiro, a proposta desses PLs seria interessante para o mercado de PBM: “Mesmo as empresas que utilizam o PAT não chegam aos 4% do teto de renúncia fiscal, então a tramitação desses projetos cria uma oportunidade para o mercado e, consequentemente, para as PBMs. Já temos um modelo instalado em praticamente todas as grandes redes e todas as drogarias do país, então a implementação de um programa assim não traria nenhum tipo de dificuldade tecnológica para o sistema”.

Além do incentivo legal para expandir esse mercado, o futuro dos programas de benefícios está intrinsicamente ligado à tecnologia. Oscar Basto, diretor executivo da Interplayers, vislumbra uma maior integração tecnológica e sugere que a conexão de um sistema de prescrição eletrônica e os dados de compra das farmácias poderia ser uma ferramenta eficaz para monitorar a adesão do paciente ao tratamento prescrito: “Em breve, podemos imaginar o médico recebendo informações em tempo real sobre a adesão do paciente à sua prescrição”.

Fonte: https://futurodasaude.com.br/pbm-mercado-brasil/

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