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Seguir influenciadores, tomar suplementos e fazer dietas: os principais erros que cometemos ao cuidar da saúde, segundo Peter Attia

Especialista em longevidade atacou as soluções fáceis que viralizam online e defendeu o poder de exercícios personalizados e medicina de prevenção

A casa lotada para assistir à palestra de Peter Attia no South By Southwest (SXSW) não chega a surpreender: a longevidade é um dos temas que mais atrai o público em eventos de inovação. O desejo de viver um número maior de anos, ou de viver com qualidade de vida por mais tempo, alimenta um mercado em crescimento que deve movimentar US$ 42,2 bilhões até 2030, segundo relatório da PwC.

Um dos nomes mais respeitados no segmento, o médico Peter Attia criou uma empresa, Early Medical, que aplica os princípios da “Medicina 3.0” para supostamente ajudar os pacientes a ter uma melhor qualidade de vida por mais tempo. É dele também o best-seller Outlive – A Arte e a Ciência de Viver Mais e Melhor, de 2023, que vira e mexe ressurge na lista dos mais vendidos do The New York Times.

“Não existem suplementos ou dietas mágicas. Os influenciadores não vão te ajudar a rejuvenescer. O que existe é um trabalho árduo e disciplinado, mas que funciona”, diz Attia, que passou boa parte da apresentação tentando fugir dos clichês de outros gurus da vida longa. Nada de procedimentos duvidosos ou medidas invasivas, como prega o guru Bryan Johson (que também irá se apresentar no SXSW, no dia 13). Em vez disso, a receita de Attia prevê mudança de hábitos que exigem disciplina e englobam aspectos como exercícios personalizados e saúde emocional.

Confira a seguir alguns dos principais tópicos abordados na apresentação:

Qualidade de vida

“Três fatores colaboram para a qualidade de vida depois dos 50. O primeiro é físico: a robustez do corpo, a capacidade de se movimentar e a ausência de dor. O segundo é o lado cognitivo. Todos nesta sala provavelmente podem perceber, à medida que envelhecem, que sua capacidade cognitiva está mudando. Talvez a memória não seja mais tão boa quanto costumava ser, ou a velocidade de processamento de novas informações. E há um terceiro aspecto, que é a saúde emocional. E esse é interessante, porque é o único que não precisa necessariamente declinar com a idade.”

Medicina 3.0

“O sistema médico atual, que descrevo no meu livro como Medicina 2.0, é muito bom. Foi o que permitiu que a maioria de nós continuasse vivo até hoje. A Medicina 2.0 eliminou ou reduziu drasticamente doenças infecciosas, traumas, doenças transmissíveis e questões relacionadas à mortalidade infantil e materna. E isso aconteceu desde a última parte do século 19 até hoje. Fomos de uma expectativa de vida média abaixo de 40 anos para outra de cerca de 80 anos. Também ficamos um pouco melhores em tratar ataques cardíacos e câncer. No entanto, a Medicina 2.0 fracassou em dois aspectos: não foi muito bem-sucedida em tratar doenças crônicas e não desenvolveu uma maneira de melhorar a qualidade de vida na velhice. Para a medicina tradicional, bastaria estar livre de incapacidades e doenças para ter qualidade de vida. Mas isso não é o suficiente, nem de longe. Existe uma razão fundamental pela qual estamos estagnados: usamos a estratégia errada, que é só tratar da doença quando ela já está presente, em vez de prevenir e evitar que ela acometa o paciente. Por conta disso, as pessoas vivem mais tempo doentes, o que também influencia o tempo de vida.”

Década marginal

“Todos terão uma década ‘marginal’, que eu simplesmente defino como a última década da sua vida. Meu objetivo é torná-la a melhor versão possível dos últimos anos vividos. Vou dar um exemplo. No verão de 2018, eu estava no funeral do pai de um grande amigo meu. Minha lembrança desse senhor era de uma pessoa adorável que gostava de jogar golfe e cuidar do jardim. Mas descobri que, nos últimos dez anos de sua vida, ele não havia jogado golfe ou feito nada pelo jardim, por conta de uma série de problemas físicos. No final, o que o matou foi o Alzheimer. Mas a grande tragédia foi o fato de que, nos últimos dez anos, ele havia se retirado da sua vida. Quando você tira a capacidade de uma pessoa de participar fisicamente das coisas, isso suga a sua energia vital. É isso que precisamos evitar.”

Vida de atleta

“Em meus estudos, descobri que os atletas podem nos ensinar muitas coisas. Eles são muito específicos no tipo de exercício que fazem. Hoje muita gente decide correr, andar de bicicleta, fazer musculação, e conseguem ter um benefício tremendo com isso. Mas isso não vai necessariamente aumentar sua longevidade. É preciso ser específico como os atletas, treinar com um propósito. Com a orientação certa, os exercícios vão te dar exatamente o que você precisa, compensando nas áreas em que está mais fraco. Portanto, é preciso otimizar as atividades em torno da saúde futura, aproveitando tudo o que o seu corpo é capaz.”

Relógios inteligentes

“Eu não uso nenhum dispositivo vestível, e não acho que você precise usar. Você não precisa de um aparelho que diga se dormiu bem, ou quantas calorias tem a refeição que está comendo. Para algumas pessoas, pode ser útil na hora de mudar comportamentos, por exemplo, saber o quanto de glicose foi ingerida por dia. Mas é preciso levar em conta que as informações que você consegue com os aparelhos são incompletas e muitas vezes não levam em conta o contexto. Eu não gostaria que alguém sentisse que precisa estar preso a um dispositivo vestível para fazer progressos.”

Influenciadores da saúde

“Sei que posso parecer um babaca esnobe dizendo isso, mas eu não consigo acreditar em algumas das perguntas que os pacientes me fazem. É impressionante para mim como as pessoas pensam que certos alimentos ou enzimas que viram online podem mudar completamente sua vida, quando o que estão fazendo na verdade é como reorganizar as cadeiras do Titanic: totalmente inútil. Elas chegam para mim preocupadas com o MTHFR, porque um influenciador falou sobre isso, e esse gene idiota literalmente não significa nada. É trágico o tempo que se perde com essas coisas. Acredito que, em parte, isso acontece porque as ações que o paciente realmente precisa tomar são difíceis. Recompensadoras, mais difíceis. É mais fácil simplesmente parar de comer um alimento ‘do mal’ e fazer de conta que tudo foi resolvido.”

Suplementos para longevidade

“Se eu ganhasse um dólar cada vez que alguém viesse até mim e dissesse: “eu não acredito na indústria farmacêutica, mas tomo dezenas de suplementos por dia”, teria mais dinheiro que todos nessa sala juntos. Essa é a coisa mais insana que alguém pode dizer. Quer dizer, ele prefere tomar um produto provavelmente feito com penas de pássaros esmagadas em alguma fábrica remota, sem nenhuma regulação, do que medicamentos altamente regulamentados e controlados, feitos por ‘aquelas pessoas horríveis da indústria farmacêutica’. Não dá para acreditar. Não estou dizendo aqui que alguém deva tomar mais remédios. Mas, se sua pressão arterial está alta e não pode ser controlada apenas reduzindo seu peso, ou se o seu colesterol está elevado, e você decide não tomar medicamentos por causa de algum posicionamento moral, vou dizer apenas que esta é uma escolha terrível.”

Saúde emocional

“Dormir adequadamente e fazer exercícios tem um impacto enorme sobre a saúde emocional. É uma das maneiras de aliviar o estresse crônico. Claro, há muitas outras coisas que podemos fazer também, desde meditação até exercícios de respiração, terapia, e escolher a interação social em vez do isolamento. Não existe uma resposta única. Acho importante tentar várias medidas que ajudem a tolerar o estresse, e também a criar um grau suficientemente alto de conexão com outras pessoas. É muito difícil levar uma vida ideal quando não existe essa conexão. Se eu dissesse: ‘você pode ter tudo o que quiser, mas terá que viver isolado para sempre’, tenho certeza de que ninguém aceitaria. Há algumas coisas que realmente importam na vida, e estar com outras pessoas é uma delas.”

Dietas

“O que eu vou dizer agora costuma deixar as pessoas muito irritadas. Eu entendo que comida é um tópico emocional para muita gente, então tento falar com calma. O mundo está cheio de pessoas dizendo que a única coisa que importa na vida é a dieta. O exercício não importa. O sono não importa. Drogas não importam. Você só tem que fazer a dieta perfeita, e tudo será resolvido. E a dieta perfeita, claro, é aquela que ela está fazendo naquele momento. Para mim, dietas são como religiões: não é possível que todas estejam certas. Portanto, o que digo é: na verdade, não temos muitas provas de que as dietas funcionem. Há poucas evidências sobre isso. Sabemos que comer demais é ruim, e sabemos que comer de menos é ruim. E sabemos que, se você não tem certos micronutrientes, se você não tem proteína suficiente, isso vai impactar o seu corpo, especialmente depois dos 50 anos. Você desenvolve algo chamado sarcopenia, que provavelmente vai encurtar um pouco sua vida. O que sabemos não vai muito além disso. Não podemos recomendar nenhuma dieta, somente que esteja em equilíbrio energético, ou seja, não comendo demais, não comendo de menos, e que esteja ingerindo quantidades adequadas de proteínas e micronutrientes.

Para ser claro, eu não sou contra as pessoas fazerem dietas super-regradas. Se está funcionando para elas, ótimo. Mas seria estúpido acreditar que aquela é a única maneira de controlar a alimentação, e todos deveriam segui-la. Não faça isso. E não use dietas para resolver problemas complexos. Você pode usar a alimentação para atingir o equilíbrio energético, massa muscular, sensibilidade à insulina. Mas não para controlar a pressão arterial ou o colesterol. Isso requer acompanhamento médico. Quando digo tudo isso, as pessoas ficam irritadas. Mas é apenas a verdade.”

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/especiais/sxsw/noticia/2025/03/seguir-influenciadores-tomar-suplementos-e-fazer-dietas-os-principais-erros-que-cometemos-ao-cuidar-da-saude-segundo-peter-attia.ghtml


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