Atacado farmacêutico supera turbulências e fatura R$ 85 bi
Pedidos de recuperação judicial e problemas com prazos de pagamento não tiraram o protagonismo das distribuidoras em 2024
O atacado farmacêutico em 2024 foi marcado por uma série de pedidos de recuperação judicial, envolvendo tanto distribuidoras regionais como players de grande porte. O fato revela fissuras de um setor que convive com elevada concorrência, aumento de custos operacionais e estreitamento das margens, mas não foi suficiente para tirar o protagonismo do segmento como elo estratégico da cadeia produtiva.
Fontes ouvidas pelo Panorama Farmacêutico também ressaltam a retração na oferta de crédito como outro agravante. Não só o mercado financeiro, como também as indústrias farmacêuticas, vêm fechando as portas para novos financiamentos. Em paralelo, o efeito cascata estende-se ao varejo farmacêutico independente, cuja rotina de alargar os prazos de pagamento compromete o fluxo de caixa das empresas.
Para o atacado farmacêutico, cenário de 2025 inspira cautela
Paralelamente aos problemas, o atacado farmacêutico apresentou um saldo positivo em 2024. Registrou crescimento de 7,4% em vendas nos 12 meses móveis encerrados em setembro, em relação ao mesmo de período de 2023, chegando a R$ 85,1 bilhões.
De acordo com Oscar Yazbek Filho, presidente da Abafarma – Associação dos Distribuidores Farmacêuticos do Brasil, os associados responderam por 69% deste montante, o que correspondeu a R$ 58,7 bilhões. “Hoje, 57% dos negócios do varejo farmacêutico são atendidos pelos distribuidores. Mas, apesar do resultado positivo, o cenário para 2025 inspira cautela, com aumento dos juros e uma esperada redução da taxa de emprego e desaceleração”, acrescenta.
Força da distribuição regional
Já para a Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), o engajamento das 160 empresas associadas impulsionou o desenvolvimento do setor, consolidando a força do atacado regional. “Com um market share de 30,01% em unidades e 18,8% em valor (CPP) no mercado, as companhias que integram a entidade atendem 85,4% das farmácias do país, o que representa uma cobertura de 95% dos municípios do Brasil”, afirma o diretor executivo Vinicius Dall’Ovo.
Segundo ele, nos mercados de similares e genéricos combinados, a representatividade da Abradilan é ainda mais expressiva, com 49,3% do mercado em unidades e 45,2% em valor (CPP). Entre os desafios e oportunidades para a distribuição regional em um cenário de constante mudança, uma pesquisa da Abradilan em conjunto com o Instituto Aquila aponta a excelência na gestão, a diversificação de operações e o fortalecimento das parcerias com a indústria e o varejo como ações fundamentais para a adaptação ao novo mercado.
“A profissionalização da gestão, com foco em indicadores-chave e na criação de valor para toda a cadeia, é crucial para o sucesso futuro, assim como a gestão eficiente de finanças, estoques e crédito”, ressalta Dall’Ovo. O executivo também aponta a colaboração entre indústria, distribuição e varejo como fator essencial para superar os desafios e aproveitar as oportunidades do mercado. “Além disso, investir em tecnologia, digitalização, capacitação de equipes e excelência no serviço são fatores críticos para o sucesso”, completa.
Farmácias independentes impulsionam a Rede Integração Farma
Em meio a um momento de incertezas, o volume de vendas da Rede Integração Farma contrariou expectativas. A entidade, que reúne 19 distribuidoras de medicamentos atuantes em 76% dos municípios brasileiros, registrou crescimento de 4,19% no acumulado do ano até outubro, na comparação com o mesmo período do ano passado.
As vendas da Integração Farma nesse mesmo período dividem-se entre as pequenas redes (1,8%), médias redes (2%), grandes redes (6,4%) e lojas do associativismo (28,5%). Mas a fatia majoritária do volume de negócios é decorrente das farmácias independentes – 61,3%.
“Para os associados foi um ano bem desafiador, com um mercado consumidor ainda restritivo e o aumento da inadimplência, entre outras variáveis. Esse cenário, entretanto, nos força a ser ainda resilientes”, pontua Geraldo Monteiro, diretor executivo da Rede Integração Farma. O grupo projeta encerrar o ano de 2024 com avanço de 5% a 8% no faturamento.
Mercado de especialidades conquista relevância
A venda de medicamentos de especialidades também vem conquistando relevância ao longo dos anos. O mercado institucional totalizou R$ 81 bilhões em vendas nos últimos 12 meses até setembro de 2024, o que equivale a um crescimento de 14,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. O segmento já representa 37,3% de todo o setor farmacêutico, segundo estudo da IQVIA.
E as distribuidoras de medicamentos de especialidades ganham protagonismo nesse contexto. As vendas por esse canal totalizaram R$ 123 bilhões, com maior crescimento justamente no canal institucional, que registrou R$ 49 bilhões de faturamento no período. Mais de 418 milhões de unidades (62,3%) foram comercializadas por meio da distribuição, contra 253 milhões (37,7%) de vendas diretas. Deste total, 80% tiveram como destino hospitais e clínicas privadas e 20% foram direcionados à rede pública.
Apesar dos bons números, Paulo Maia, presidente executivo da ABRADIMEX, associação que representa 15 empresas com foco no mercado de specialty care, pondera que 2024 foi um ano de dificuldades para a manutenção do negócio. “Além do panorama da recuperação judicial, o período também apresentou um movimento inverso ao dos anos anteriores. O ritmo de aquisições deu lugar à venda de ativos para recompor o equilíbrio financeiro”, explica.
Na avaliação de Maia, um dos maiores entraves está na concessão de prazos de pagamento por parte da indústria. Embora já solucionado, as redes integrantes da associação sofreram por alguns meses tendo que custear a defasagem entre a quitação das compras pelos hospitais, que girava em torno de 75 dias, com o prazo de 42 dias estipulado pelos laboratórios para honrar a fatura. “Essa diferença acabou caindo no colo das distribuidoras, obrigadas a “financiar” essa operação com caixa próprio durante 100 dias, em média”, critica.
As distribuidoras afiliadas à associação movimentam quase 75% da venda de medicamentos de especialidades junto ao mercado institucional. “Elas funcionam como uma extensão da cadeia de vendas para indústrias farmacêuticas, o que aumenta sua capilaridade no mercado hospitalar. Além disso, centralizam o fornecimento de produtos, reduzindo custos logísticos e operacionais das instituições de saúde”, finaliza Maia.
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/atacado-farmaceutico-fatura-r-85-bi/